Os desafios contábeis de ONGs: como gerenciar recursos e prestar contas
Mikaellen Gonçalves da Costa | Atualizado em: 13/01/2025 | 7 minutos de leituraGerir uma Organização Não Governamental (ONG) é, ao mesmo tempo, inspirador e desafiador. De um lado, existe o propósito maior de transformar realidades e impactar vidas. Do outro, há uma série de responsabilidades administrativas que, muitas vezes, passam despercebidas pelo público. Nesse contexto, a contabilidade se torna um dos pilares mais importantes, pois é ela que garante a sustentabilidade financeira, a transparência e a confiança dos doadores e parceiros.
Neste post, vamos explorar a importância da contabilidade para as ONGs, os principais desafios enfrentados e as boas práticas que podem ajudar essas organizações a gerenciar seus recursos de forma eficiente, prestando contas com clareza e conquistando ainda mais credibilidade.
Importância da contabilidade nas ONGs
Para uma ONG, a contabilidade é muito mais do que uma obrigação legal. Ela é uma ferramenta estratégica que ajuda a organização a cumprir seu propósito com eficiência, responsabilidade e sustentabilidade. Além disso, permite mostrar aos doadores e beneficiários que cada recurso foi bem utilizado, fortalecendo a relação de confiança.
Transparência e prestação de contas
Imagine que você é um doador que decidiu apoiar uma ONG. Certamente, você gostaria de saber como o seu dinheiro foi aplicado e quais resultados ele ajudou a alcançar, certo? É exatamente nesse ponto que a transparência se torna essencial.
A contabilidade permite que as ONGs preparem relatórios detalhados, claros e acessíveis, mostrando não apenas os números, mas também os impactos gerados. Dessa forma, os doadores se sentem mais confiantes e propensos a continuar contribuindo, pois percebem que seu apoio realmente faz a diferença.
Distribuição de lucros aos acionistas
No Brasil, a legislação estabelece que as empresas devem distribuir, no mínimo, 25% do lucro líquido ajustado aos acionistas, salvo previsão diferente no estatuto social. Isso significa que, ao final do exercício, uma parte do lucro vai para os investidores, enquanto o restante pode ser reinvestido na própria operação ou reservado para futuras necessidades.
A frequência dessa distribuição pode variar. Algumas empresas realizam pagamentos trimestrais ou semestrais, enquanto outras optam por pagamentos anuais. Essa decisão depende da política interna de cada organização.
Conformidade com normas e regulamentações
Além da transparência, é indispensável que as ONGs estejam em conformidade com as normas e regulamentações específicas do terceiro setor. Muitas vezes, essas regras podem ser bastante complexas e variar de acordo com a localidade ou o tipo de atividade da organização.
Por isso, uma contabilidade bem estruturada é essencial para garantir que tudo esteja em dia, desde a declaração de impostos até a prestação de contas em editais públicos. Afinal, não estar em conformidade pode gerar multas, perda de credibilidade e até mesmo comprometer a continuidade das atividades.
Sustentabilidade financeira e eficiência operacional
Outro ponto fundamental é a sustentabilidade financeira. Para que uma ONG consiga manter suas operações e expandir seu impacto, é crucial ter um controle rigoroso sobre as receitas e despesas. Isso significa planejar, monitorar e ajustar constantemente a alocação dos recursos disponíveis.
Além disso, a contabilidade contribui para a eficiência operacional, ajudando a identificar gargalos e oportunidades de economia. Assim, a organização consegue fazer mais com menos, ampliando seu impacto sem comprometer a qualidade dos serviços oferecidos.
Principais desafios contábeis enfrentados pelas ONGs
Embora a contabilidade seja uma aliada indispensável, as ONGs enfrentam desafios únicos que podem tornar a gestão financeira ainda mais complexa.
Diversidade de fontes de financiamento
Uma das características das ONGs é a diversidade de fontes de financiamento. Elas podem receber recursos de doações individuais, parcerias com empresas, editais públicos, financiamentos internacionais e até mesmo eventos beneficentes.
Embora essa diversidade seja positiva, ela também exige um controle contábil rigoroso, já que cada fonte de financiamento pode ter regras específicas para o uso dos recursos. Gerenciar essas diferentes exigências sem misturar os recursos é um dos maiores desafios enfrentados pelas organizações.
Controle de despesas e alocação de recursos
Outra dificuldade comum é garantir que os recursos sejam utilizados de forma eficiente e alinhada aos objetivos da ONG. Isso inclui controlar as despesas, evitar desperdícios e assegurar que cada centavo seja direcionado para as atividades que realmente fazem a diferença.
Além disso, muitas ONGs lidam com altos volumes de pequenas transações, como compras de materiais para projetos ou reembolsos de voluntários. Sem um sistema contábil adequado, é fácil perder o controle dessas despesas e comprometer a precisão dos relatórios financeiros.
Elaboração de relatórios financeiros precisos
Por falar em relatórios, eles são uma peça-chave para a prestação de contas e o planejamento estratégico da ONG. No entanto, a elaboração de relatórios financeiros precisos pode ser um desafio, especialmente para organizações que não possuem sistemas automatizados ou equipes capacitadas.
Esses relatórios devem ser claros, detalhados e atender tanto às exigências legais quanto às expectativas dos doadores. A falta de informações precisas pode gerar desconfiança e até prejudicar a captação de novos recursos.
Boas práticas para uma gestão contábil eficiente em ONGs
Felizmente, existem boas práticas que podem ajudar as ONGs a superar esses desafios e a melhorar sua gestão contábil. Com um pouco de planejamento, organização e investimento em capacitação, é possível transformar a contabilidade em uma ferramenta estratégica.
Implementação de sistemas de contabilidade
Um dos primeiros passos é adotar sistemas de contabilidade. Esses sistemas ajudam a organizar as receitas e despesas de acordo com as exigências legais e as necessidades da ONG, facilitando o monitoramento e a elaboração de relatórios.
Além disso, a automação reduz o risco de erros manuais e economiza tempo, permitindo que a equipe se concentre em outras atividades estratégicas.
Capacitação de profissionais em normas específicas para ONGs
Outra boa prática é investir na capacitação da equipe. A contabilidade no terceiro setor possui peculiaridades que nem sempre são ensinadas nos cursos tradicionais. Por isso, é importante que os profissionais responsáveis pela área estejam familiarizados com normas específicas, como o gerenciamento de fundos restritos e as exigências de editais públicos.
Treinamentos regulares também são úteis para manter a equipe atualizada em relação às mudanças na legislação e às melhores práticas do mercado.
Realização de auditorias internas e externas periódicas
Por fim, as auditorias são uma ferramenta valiosa para garantir a transparência e a eficiência da gestão contábil. As auditorias internas ajudam a identificar falhas e a implementar melhorias, enquanto as auditorias externas reforçam a credibilidade da ONG perante doadores e parceiros.
Além disso, essas auditorias oferecem uma visão imparcial da saúde financeira da organização, permitindo que ela se prepare melhor para desafios futuros.
Benefícios de uma contabilidade transparente
Quando uma ONG adota práticas contábeis transparentes, os benefícios vão muito além da conformidade legal. Essa transparência pode transformar a maneira como a organização é percebida, ampliando seu impacto e sua capacidade de atrair recursos.
Aumento da confiança de doadores e parceiros
Doadores e parceiros querem saber que seus recursos estão sendo usados de forma responsável e com impacto real. Quando a ONG demonstra que possui uma gestão contábil eficiente e transparente, ela conquista a confiança desses apoiadores, o que aumenta as chances de fidelização e novas contribuições.
Melhoria na captação de recursos e financiamentos
Além de atrair doadores individuais, uma contabilidade bem estruturada também facilita a participação em editais e a obtenção de financiamentos de grandes instituições. Relatórios financeiros claros e detalhados mostram que a ONG é confiável e capaz de gerir recursos de forma eficaz, o que a destaca em processos de seleção competitivos.
Fortalecimento da reputação e credibilidade institucional
Por fim, a transparência contábil fortalece a reputação da ONG no setor. Uma organização que é vista como responsável e eficiente tem mais chances de estabelecer parcerias estratégicas, ampliar sua atuação e consolidar sua credibilidade junto à sociedade.
Conclusão
Embora os desafios sejam significativos, a contabilidade é uma aliada indispensável para qualquer ONG que deseja alcançar seus objetivos de forma sustentável. Com boas práticas, ferramentas adequadas e uma equipe capacitada, é possível transformar esses desafios em oportunidades, garantindo a transparência, a eficiência e o impacto positivo tão desejados. Afinal, cada número bem administrado representa um passo a mais na construção de um mundo melhor.